Sociedade civil saiu à rua para exigir uma solução para os moradores das Salinas, expulsos no âmbito das demolições de junho de 2020. Mais de 300 famílias vivem em "péssimas condições" e querem voltar ao bairro.
Ativistas falam em "má fé"
"O ponto principal [do protesto] é ajudar o povo das Salinas a regressar à sua área de origem, as Salinas, o bairro que é de direito deles", afirma Finúria Silvano, membro da organização do protesto. "Nós estamos a ajudar para que eles regressem ao sítio deles. Porque é que este povo foi expulso das Salinas?", questiona.
Finúria Silvano vê "algo de má fé por parte da administração de Benguela e do governo provincial". O povo, explica, está nas Salinas desde 1950, mas as autoridades afirmam que estão lá ilegalmente. "Isso não condiz com a verdade, porque nós temos provas, fomos buscar documentos e factos que comprovam que esse povo é antigo ali [nas Salinas] e nós estamos aqui para lutar até ao fim desse caso", garante a ativista.
"Vivem em condições péssimas em todos os sentidos, a escola [Magistério Primário] não reúne condições, a escola não é casa para as pessoas viverem", sublinha.
20 famílias numa sala de aula
A moradora das Salinas Apolinária Lussati, presente na manifestação, confirma as condições "péssimas” em que vivem as vítimas das demolições. À DW, conta que numa sala de aula residem 20 famílias e sublinha que "as crianças não estão a estudar”.
O ativista Antônio Pongote, membro da integrante do Movimento Revolucionário de Benguela, remete para a Constituição da República angolana e o seu artigo 85, para lembrar que o Estado tem a obrigação de dar habitação e qualidade de vida ao povo. "O que nós encaramos foi uma autêntica violação dos direitos humanos", sublinha.
"19 anos de paz e nessa paz não temos consumido aquilo que é a tal obrigatoriedade, uma convivência social. É lastimável termos um Governo que ainda abusa e pisa a dignidade da pessoa humana. Afinal de contas, essa Angola é de todos", lamenta o ativista.
Dedo apontado a Falcão, Muongo e Matias
Rui Falcão, ex-governador de Benguela, Leopoldo Muongo, antigo vice-governador para infraestruturas e Delta Matias, atual administradora municipal de Benguela, são apontados como os principais causadores desses problemas, segundo o ativista Mither. Para este membro da organização do protesto, a atitude certa é devolver as terras ao povo. "O caso das Salinas é violação dos direitos humanos, por isso estamos a exigir às entidades de direito que o processo seja mais célere", sublinha.
Justino Pinto de Andrade, presidente do Bloco Democrático e deputado à Assembleia Nacional, constatou no sábado o atual cenário em que vivem aquelas famílias no bairro das Salinas. Em entrevista à DW África, fala num "desastre" e "uma autêntica vergonha”. Justino Pinto de Andrade também se juntou à marcha a favor do povo das Salinas.
Em nome das crianças, a ativista mais jovem da província de Benguela, Florência, lamenta que, quando foi demolido o bairro das Salinas ninguém tenha pensado nas crianças que ali vivem. "Eles sabem muito bem que há crianças, há bebés que nasceram lá e estão a crescer lá, já que eles não querem dar voz às crianças, eu vou perguntar por elas. Se eles vivem na escola, onde vão estudar?", pergunta.