Amnistia Internacional diz que milhões de pessoas estão à "beira da fome" no sul de Angola | Land Portal
A pior seca em 40 anos e o desvio de terras para a pecuária comercial estão na origem da crise que levou milhares a fugirem para a Namíbia
 
LONDRES — 
 
Milhões de pessoas no sul de Angola enfrentam uma ameaça à sua própria existência devido à seca agravada pelas alterações climáticas que continua a devastar a região, alerta a Amnistia Internacional (AI) nesta quinta-feira, 22.
 
Essas pessoas “estão à beira da fome, presas entre os efeitos devastadores das mudanças climáticas e o desvio de terras para a pecuária comercial”, diz em nota o director da organização para a África Oriental e Austral.
 
Ante essa realidade, Deprose Muchena “apela às autoridades angolanas e à comunidade internacional para intensificarem os seus esforços de socorro, incluindo o fornecimento de assistência alimentar de emergência sustentada e regular e acesso a água limpa e segura para uso doméstico e consumo nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla”.
 

Amnistia Internacional

Pastores e gado, Huíla, Angola

A situação no sul de Angola, segundo a AI, é um forte lembrete de que as mudanças climáticas já estão causando sofrimento e morte”.
 
“A comunidade internacional, especialmente os Estados mais ricos e os maiores responsáveis pela crise climática, deve tomar medidas imediatas para cumprir suas obrigações de direitos humanos, reduzindo urgentemente as emissões e fornecendo a assistência técnica e financeira necessária ao governo e à sociedade civil local para apoiar as comunidades afetadas”, continua Muchena.
 

Seca e abandono

A seca que aflige o Sul de Angola, “a pior em 40 anos, atingiu comunidades tradicionais que lutavam para sobreviver desde que foram despojadas de vastas áreas de pastagem”, continua a organização, que destaca que o “Governo angolano deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio papel nesta terrível situação, garantir a reparação necessária às comunidades afectadas e tomar medidas imediatas para resolver a insegurança alimentar nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla”.

A AI reforça que “as autoridades angolanas devem parar de desviar terras das comunidades tradicionais nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla”.
 
Deprose Muchena afirma que “a criação de fazendas comerciais de gado em terras comunitárias expulsou as comunidades pastoris das suas terras desde o fim da guerra civil em 2002,uma mudança que deixou grandes sectores da população em insegurança alimentar e abriu caminho para uma crise humanitária”.
 
E à medida que a comida e a água se tornam cada vez mais escassas, “milhares de pessoas fugiram das suas casas e buscaram refúgio na vizinha Namíbia”.
 
A AI cita a organização não governamental com base na região dos Gambos, Associação Construindo Comunidades (ACC), que denuncia que “famílias de pastores tradicionais do município de Gambos, província da Huíla, estão a passar fome”.
 
“ACC relatou que dezenas de pessoas morreram de desnutrição desde 2019, sendo os mais velhos e crianças os mais vulneráveis”, continua a nota que cita a distribuição de cestas básicas na região, onde as pessoas recorreram ao consumo de folhas para sobreviver.
 

Fuga para Namíbia

 
Os angolanos que vivem nas províncias do Cunene e Huíla foram especialmente atingidos pela persistente seca, lembra a AI, acrescentando que a época chuvosa de 2020/21 foi anormalmente seca, “o que significa que a situação deve piorar muito nos próximos meses”.
 
Sem terra para cultivar, sem chuva e sem apoios, milhares de angolanos fugiram para a Namíbia, de acordo com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV).
 
“As autoridades da Namíbia registaram um total de 894 cidadãos angolanos nas regiões de Omusati e Kunene apenas em Março de 2021, enquanto no mês de Maio organizações não governamentais “relataram que mais de 7.000 angolanos, principalmente mulheres com filhos e jovens, haviam fugido para a Namíbia, e o número continua a aumentar”, diz a AI.
 
Aquelas organização não governamentais denominaram a esses angolanos de “refugiados do clima, para chamar a atenção para o facto de a seca e a falta de recursos no sul de Angola os levarem a migrar para a Namíbia como uma medida desesperada para sobreviver”, segundo a AI
 
A VOA tem vindo a noticiar, nos últimos meses, a morte de pessoas devido à fome, tendo a Igreja Católica indicado na semana passada que, pelo menos, cerca de 140 mil pessoas encontram-se nessa situação na província da Huíla.
 
Organizações da sociedade civil pediram há três meses ao Governo quem declare o estado de emergência na região para facilitar o acesso à ajuda humanitária.

 

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