Quatro famílias se instalaram na fronteira do território indígena com a rodovia Transamazônica para tentar conter a extração ilegal de madeira. O EL PAÍS visitou a recém criada aldeia e a terra devastada.
1. Turu Arara é um indígena da etnia Arara, conhecida por sua bravura. Suas terras estão no Estado brasileiro do Pará, na Bacia do Rio Xingu, e abrangem mais de 274.000 hectares da Amazônia e quatro municípios. Foram demarcadas pelo Governo Federal em 1991, mas até hoje invasores colocam em xeque a sobrevivência da selva e dos próprios índios que nela habitam.
2. Lideradas pelo cacique Turu, quatro famílias Arara deixaram, em fevereiro de 2018, a aldeia Laranjal, a maior das cinco instaladas no interior da floresta, para se estabelecerem na recém criada aldeia Arado.
3. A recém criada aldeia Arado está na fronteira do território indígena com a rodovia Transamazônica, uma imensa rodovia transversal que começou a ser construída no final dos anos 60, durante a ditadura militar, para o unir o Brasil de este a oeste e colonizar a Amazônia. Enormes trechos, como os 35 quilômetros entre os municípios de Uruará e Medicilândia que fazem fronteira com as terras dos Arara, permanecem com terra batida e esburacados.
4. Quando as quatro famílias decidiram se mudar para a aldeia Arado, tinham um único objetivo: tentar coibir, até agora sem armas, apenas com sua presença, a ação de invasores que roubam madeiras valiosas. Quase todas as noites saem com caminhões carregados com Jatobá, Ipê, Massaranduba ou Angelim.
5. Da Transamazônica é possível ver dezenas de ramais na mata por onde entram e saem os caminhões e máquinas que, pouco a pouco, vão carcomendo o interior da floresta. Por fora a mata parece intacta. Por dentro, uma devassa. Há pedaços de tronco e árvores caídas por todas as partes. Marcas de pneu e pacotes de cigarro indicam que a presença de "brancos" na floresta é recente.
6. A preservação da terra dos Arara é importante para garantir o futuro das novas gerações de indígenas desta etnia. Atualmente mais de 300 índios vivem nas terras demarcadas pelo Governo Federal. "Nós sobrevivemos da mata, da caça de macacos, jabutis... A nossa briga é para que os brancos não desmatem tudo", explica o cacique Turu.
9. Já as crianças Arara da aldeia falam português, além do Karib, e frequentam a escola pública da região.
10. A tensão aumentou desde a eleição de Jair Bolsonaro. O atual presidente brasileiro vem dizendo desde a época da campanha eleitoral ser contra a demarcação de terras indígenas e promete liberar atividades econômicas, sobretudo mineração, nos territórios protegidos pelo Estado brasileiro.
12. Uma mulher da aldeia Arado utiliza folhas de uma palmeira babaçu para fazer a cobertura de sua casa. Consegue mantê-la seca nos dias de chuva e fresca nos dias de muito calor, uma constante nessa região da Amazônia. Se bem feita, essa cobertura pode resistir até dois anos.