Biólogos estão preocupados com os efeitos das ondas sonoras da sondagem sísmica nos elefantes, que se comunicam por ondas sísmicas de baixa frequência “ouvidas” através de suas patas sensíveis. Essas vibrações fornecem informações sobre outros rebanhos, fontes de água e perigo em potencial.
“Estudos recentes demonstraram que os elefantes eram sensíveis aos sinais sísmicos produzidos por tempestades a centenas de quilômetros de distância”, alerta a bióloga Audrey Delsink, diretora de vida selvagem da Humane Society International, na África. “Portanto, sabemos que os elefantes são extremamente sensíveis e atentos às vibrações sísmicas.”
A ReconAfrica não respondeu a um pedido da National Geographic perguntando se a avaliação de impacto ambiental incluiria informações a respeito dos efeitos dos testes sísmicos nos elefantes da região.
A ReconAfrica promoveu o projeto de petróleo e gás como uma importante fonte de empregos para os moradores locais e de desenvolvimento comunitário. Mas depois de analisar o acordo da ReconAfrica com o governo da Namíbia para a licença de exploração de petróleo, Nikki Reisch, diretora do Programa de Energia e Clima do Centro de Direito Ambiental Internacional, contou por e-mail que o projeto “parece ter sido mais elaborado para acelerar a produção de petróleo do que para fomentar o desenvolvimento das comunidades mais afetadas”.
Em 7 de outubro de 2020, o grupo internacional “hacktivista” Anonymous tirou do ar sites de diferentes ministérios do governo namíbio, incluindo o gabinete do presidente, em protesto contra os testes de perfuração. Um usuário do Twitter que se autodenomina Paladin disse que foi uma oposição à “ganância e permissão concedida para a destruição do meio ambiente e da vida selvagem”. Os sites permaneceram desativados por pelo menos dois dias. Um mês depois, em 6 de novembro, Paladin relatou novamente que sites do governo haviam sido retirados do ar.
Namibianos expressaram sua raiva durante um evento transmitido ao vivo em novembro, organizado pelo American Petroleum Institute for ReconAfrica, para promover o projeto a possíveis investidores. “Nós, que moramos aqui, somos contra esse projeto”, escreveu uma comentarista namibiana chamada Veruschka Pate no chat ao vivo. “Nós nos sentimos traídos pelo nosso governo e por essa empresa.”
Em 18 de dezembro, Q7 Beckett, jovem líder indígena khoe e san na vizinha África do Sul, publicou um vídeo no Facebook anunciando uma caminhada de protesto ao consulado da Namíbia na Cidade do Cabo com início em 1° de fevereiro para “defender as terras natais de seu povo” e manifestar contra a exploração de petróleo. “Não temos para onde levar nosso povo. Nosso povo não poderá morar no local se o estiverem perfurando”, lamentou ele no vídeo.
Parte da ira que muitos namibianos sentem vem da sensação, segundo eles, de que foram deixados de fora do processo inicial de avaliação ambiental, que abriu o caminho para a ReconAfrica obter a licença para perfurar os poços de testes.
Quando contatado para comentar as alegações, Pate (cujo nome verdadeiro é Veruschka Dumeni) explicou: “só ficamos sabendo desse projeto em setembro [de 2020] pela imprensa”. Dumeni disse que foi frustrante porque, segundo ela, “o país e as comunidades afetadas só ficaram sabendo do projeto quando o início já estava próximo, quando a empresa já havia levantado financiamento, gerado o interesse dos investidores e obtido os direitos para realizá-lo”.
A empresa de Mwiya, Risk-Based Solutions, realizou assembleias públicas em março e maio de 2019, e anúncios públicos em inglês foram veiculados nos meios de comunicação locais em maio de 2019, convidando as pessoas a enviarem comentários por escrito sobre os planos de perfuração dos poços de testes até o final do mês. Embora o inglês seja a língua oficial do país, a maioria dos namibianos não fala nem entende o idioma. Foram fornecidos um endereço de e-mail e um número de telefone, mas cerca de 85% das pessoas que vivem na área da licença não utilizam a internet regularmente ou não têm acesso a ela para enviar comentários por escrito, conforme solicitado no anúncio.
Opositores do projeto estão preocupados com o possível fraturamento hidráulico. O Extinction Rebellion, movimento global descentralizado que pressiona governos a lidar com as mudanças climáticas, Fridays For Future e celebridades antifraturamento, como o diretor de cinema americano Josh Fox, que escreveu e dirigiu o documentário indicado ao Oscar Gasland, sobre os efeitos do fraturamento hidráulico nos Estados Unidos — estão apoiando uma campanha contínua no Twitter e no Facebook liderada pelo grupo Frack Free Namibia and Botswana.
A Unesco também está “acompanhando com atenção e preocupação” as ambições de exploração de gás e petróleo da ReconAfrica na região, afirmou o órgão em um comunicado enfático em 21 de dezembro. A organização havia solicitado mais informações e celebrado uma reunião on-line com representantes da Namíbia e de Botswana. Um dos resultados foi que o governo de Botsuana disse que mudaria a área licenciada para “excluir o Patrimônio Mundial das Colinas de Tsodilo, que havia sido incluído erroneamente”.
“Sempre assumimos uma posição firme de que as atividades de exploração ou extração de gás e petróleo são incompatíveis com o status de Patrimônio Mundial”, declarou Mechtild Rössler no comunicado , diretora do Centro do Patrimônio Mundial da Unesco, que também enfatizou que as comunidades locais e os povos indígenas precisam participar da gestão e da tomada de decisões.
Enquanto isso, a oposição pública continua crescendo. Uma petição on-line do grupo Rainforest Rescue para interromper os testes de perfuração já conta com mais de 112 mil assinaturas.