Reforma agrária causa clima de tensão racial | Land Portal

A reforma agrária na África do Sul está a tornar-se um assunto cada vez mais polémico, com grupos de extrema direita, em nome da minoria afrikander, a protagonizarem acções de sabotagem que podem levar a uma guerra racial no país, sobretudo desde Agosto último, quando o canal norte-ameriano Fox News, de acordo com a revista “Jeune Afrique”, fez uma emissão com inverdades sobre o assunto, seguida de um tweet de Donald Trump, em que o Presidente dizia ter orientado a realização de um rigoroso inquérito sobre o assassinato de fazendeiros brancos.

Além de provocar reacções descontroladas na África do Sul, opondo a maioria negra aos agricultores brancos, a ingerência norte-americana criou grande mal-estar nas relações entre os dois Estados, com as autoridades sul-africanas a acusarem Washington e a media norte-americana de proferirem declarações “alarmistas”, “falsas” e “politicamente deturpadas” sobre a real situação no país. A polémica vai ainda mais longe, pois, em Março último, a Austrália predispôs-se a conceder vistos aos agricultores supostamente perseguidos.
 
Na Rússia, para onde se deslocaram 30 famílias agropecuárias sul-africanas em Julho último, o Governo prepara-se para receber no mínimo 50 e no máximo 500 famílias que decidirem sair da África do Sul quando a  reforma iniciar.
 
Promessa de Mandela
 
A situação vem-se agudizando desde que o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, anunciou em rede nacional que implementará a reforma agrária naquele país. Essa medida havia sido prometida em 1994 por Nelson Mandela. 
 
Na altura, o pai da nação sul-africana prometeu que 30 por cento das fazendas e terras cultiváveis pertenceriam aos agricultores negros até o ano 2000.
 
Contudo, 18 anos após esse prazo, os negros são proprietários de apenas dez por cento das terras. A desproporcionalidade decorre do regime de apartheid, durante o qual os negros não tinham autorização para possuir bens, numa medida que concentrou toda a riqueza disponível nas mãos dos produtores brancos. 
 
De acordo com Ramaphosa, é preciso que uma emenda à Constituição permita a distribuição de terra para os agricultores negros do país, que estão muito descontentes com a demora da reforma agrária.
 
O Congresso Nacional Africano (ANC), partido de Ramaphosa e que controla o legislativo no país, apoiou a proposta, segundo a qual os agricultores brancos, descendentes de famílias holandesas donas de terras há mais de 400 anos, terão as propriedades confiscadas sem receber qualquer tipo de compensação.
 
Resistência dos fazendeiros 
 
A notícia da expropriação não foi bem recebida entre os fazendeiros brancos. Eles afirmam que, com a distribuição das propriedades entre os negros, a produção agrária do país pode cair, fazendo com que pessoas passem fome. Os brancos afirmam que os agricultores negros não possuem os conhecimentos necessários para cuidar da terra.
 
O estigma vem do vizinho  Zimbabwe, que, no início dos anos 2000, fez uma reforma agrária maior que a proposta do Presidente sul-africano. Cerca de 85 por cento das terras do país foram redistribuídas.  Robert Mugabe desapropriou as terras de cerca de 2,9 mil fazendeiros e a decisão gerou episódios de violência, porque a maioria dos agricultores se recusou a deixar as propriedades e muitos foram presos. A reforma agrária causou uma crise económica no país, que precisou de importar alimentos.
 
 Oposição das elites negras
 
A reforma agrária  na África do Sul, que há muito vem sendo estudada, encontra obstáculos entre as próprias elites negras. O rei Goodwill Zwelithini, líder tradicional dos zulus, por exemplo, propôs um acordo invulgar, pedindo aos agricultores brancos que ajudem a transformar as terras dos seus antepassados em terrenos agrícolas.
 
São quase três milhões de hectares de terras na província de KwaZulu-Natal. A proposta do rei foi apontada como um sinal enviado ao ANC.
 
“Não toquem na minha terra”, seria a mensagem de Zwelithini, que num discurso em Durban, pediu uma declaração por escrito ao Presidente Cyril Ramaphosa, comprometendo-se a não redistribuir as terras do rei zulu. Outros líderes tradicionais, que, junto com Zwelithini, controlam 13 por cento da terra na África do Sul, exortam o ANC a não minar a sua autoridade.

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