Na TI Trincheira-Bacajá, a mais desmatada, há também a notícia de que o líder histórico da aldeia Pytakô não resistiu à chegada da doença. O cacique Bepkot Kaiapó Xikrin, conhecido como Cacique Onça, morreu na segunda-feira 31, aos 78 anos, e entrou para uma triste lista de figuras tradicionais dos povos que foram perdidas com o avanço da Covid-19.
Beptok foi a primeira vítima indígena do novo coronavírus na região do Médio Xingu. No Alto Xingu, a vítima foi o cacique Aritana Yawalapíti, um dos líderes mais conhecidos da luta dos povos tradicionais por direitos à terra e aos modos de vida indígena. Aritana morreu aos 71 anos no começo de agosto.
STF determinou medidas de contenção urgentes
No começo do mês de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou um pedido feito pela Apib e determinou que o governo federal tome ações urgentes para conter o avanço da Covid-19 nas terras indígenas.
A maioria dos ministros concordou com todas as medidas deferidas pelo relator Luis Roberto Barroso, que já havia concedido cautelar favorável sobre a ADPF 709 em julho – período de recesso do Judiciário.
Com isso, o governo federal deveria criar barreiras sanitárias às terras indígenas, operar na retirada de invasores – em grande parte, garimpeiros – e apresentar um plano de enfrentamento consistente, além de elaborar uma sala de situação capaz de isolar infectados e contatos próximos a fim de monitorá-los de perto.
Para técnicos ouvidos pelo ISA no levantamento do desmatamento, a extrusão é viável mesmo em meio a pandemia. “No caso do roubo de madeira, do garimpo de pequena e média escala, em geral não há ocupação permanente e o número de invasores é menor. Nesses casos, bastariam algumas dezenas de agentes e recursos financeiros próprios do Ibama, Funai e PF”, diz a organização, que cita o depoimento de servidores de carreira do Ibama e Funai.
No entanto, em relação à retirada imediata dos invasores, Barroso indeferiu um ponto concedido por ele mesmo por entender que a operação é complexa e poderia oferecer riscos à vida caso não fosse pensada como um plano estruturado.
“Indefiro, por ora, o pedido de retirada dos invasores diante do risco que pode oferecer à vida, à saúde e à segurança das comunidades. Observo, porém, que é dever da União equacionar o problema das invasões e desenvolver um plano de desintrusão. Portanto, se nenhum plano for desenvolvido a respeito da desintrusão, voltarei ao tema”, avisou.