Agrónomo guineense defende que arroz do país também foi levado para as Américas por escravizados | Land Portal
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Lusa
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Foto: IRRI Photos

O engenheiro agrónomo guineense José Filipe Fonseca defendeu hoje que o arroz da Guiné-Bissau foi levado para o continente americano por pessoas vendidas como escravizadas, assim como utensílios de cultivo.

"Os escravos da África Ocidental, da Guiné-Bissau, do Senegal, daquilo que se chamava a costa do arroz, que se estende do Senegal à Libéria, esses escravos levaram sementes e germoplasma, material genético, as tecnologias, para as Américas, América do Sul, Caraíbas, América do Norte", afirmou José Felipe Fonseca, numa entrevista à Lusa.

Ligado à organização não-governamental guineense Ação para o Desenvolvimento (AD), o engenheiro agrónomo proferiu hoje uma palestra para os estudantes da Universidade Colinas do Boé, do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, João José "Huco" Monteiro, durante a qual dissertou sobre o tema "Escravizados guineenses e o arroz no mundo", para defender que dados científicos comprovaram que o cereal chegou ao continente americano também saído da Guiné-Bissau.

No caso concreto dos Estados Unidos de América, Fonseca é da opinião de que antes do arroz asiático, os escravizados fizeram chegar o arroz africano ao estado da Carolina do Sul, principal produtor e exportador daquele cereal, disse.

"O arroz africano, que foi para América Latina, Brasil, no estado de Maranhão, um século antes de chegar à América do Norte, também revolucionou a agricultura, naturalmente, do ponto de vista do arroz, da alimentação, porque o arroz é o produto alimentar mais consumido no mundo", observou o agrónomo guineense.

José Filipe Fonseca nega a tese segundo a qual o arroz chegou ao continente africano através dos asiáticos.

"Quando o arroz asiático chegou à África já havia o arroz africano domesticado há 3.500 anos", sublinhou Filipe Fonseca.

O cientista guineense afirmou que a África "domesticou o arroz" 30 séculos antes da chegada dos europeus ao continente.

"A tese de muitos europeus que desconhecem ou deliberadamente tentam minimizar o protagonismo dos africanos é uma tese que é contrária aos ensinamentos da ciência e da própria história", notou José Felipe Fonseca.

Questionado sobre qual seria, na sua opinião, o percurso lógico do arroz até ao continente americano, o agrónomo guineense referiu que a primeira espécie "em estado selvagem" partiu da Ásia, mas a primeira espécie cultivada "já domesticada" veio da África através de pessoas escravizadas, disse.

"Esses escravos, antes de serem escravos, eram rizicultores. Porque os escravos que foram para as Américas foram depois da chegada de Cristóvão Colombo", reforçou José Felipe Fonseca.

O agrónomo guineense, tido como um especialista em cultivo da espécie do arroz Oryza Glaberrima, também designado como arroz africano, é da tese de que foram os escravizados da costa ocidental de África que levaram utensílios como a de descasque do arroz e de lavoura da terra para o continente americano.

"Com certeza. Levaram o arado, por exemplo, levaram a enxada. E no descasque, não se pode esquecer do descasque que causou muitos problemas nas plantações, o pilão, saiu daqui da África, o nosso pilão, não havia nas Américas nenhuma descascadora mecânica", disse José Felipe Fonseca.

Antes, o agrónomo guineense defende que os agricultores do estado da Carolina do Sul, por exemplo, recorriam à força dos músculos das mulheres para descascar cereais como o trigo, o centeio, a aveia e cevada, "mas não sabiam descascar o arroz", observou.

A partir do domínio de novas técnicas introduzidas por pessoas escravizadas, os produtores do arroz na Carolina do Sul começaram a exportar o arroz, defendeu Felipe Fonseca.

"Não iam exportar arroz com casca", notou.

Pela contribuição que os africanos escravizados deram aos Estados Unidos de América, Felipe Fonseca enalteceu que o ex-presidente norte-americano Barack Obama tenha criado um museu de história afro-americana em Washington, "no qual uma secção inteira é dedicada ao arroz".

MB // JH

Lusa/Fim

 

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